Robótica contra genética!
Outlive: A Era da Sobrevivência, ou simplesmente Outlive, é um jogo de estratégia em tempo real 100% nacional bem ao estilo de StarCraft que foi lançado em em dezembro de 2000 (ou 19 de março de 2001, dependendo da fonte).
O game é ambientado num futuro distópico típico de ficção científica onde humanos e robôs lutam entre si pela supremacia. Foi muito bem feito e trabalhado e, pelo menos em termos de recursos gráficos e sonoros, não deve nada ao imensamente popular game da Blizzard.
Apesar da desenvolvedora, Continuum Entertainment, já ter encerrado suas atividades há algum tempo, vale a pena conhecer o Outlive, especialmente se você gosta de projetos brazucas, RTS e games antigos.
A demo do jogo, que estamos disponibilizando aqui, é totalmente jogável. Além do tutorial, tem três missões single player e também conta com suporte multiplayer, embora não possamos garantir que esta funcionalidade ainda funcione…
O ano é 2034. O caos se estabeleceu, junto à explosão populacional, extinção de recursos minerais e surgimento de facções terroristas. Existem duas facções, humanos e robôs. Os comandantes de cada uma deve gerenciar seu exército e recolher recursos para completar as missões e derrotar os inimigos.
No século 21, os recursos estão se tornando cada vez mais escassos e o terrorismo global está aumentando incomensuravelmente. A salvação: o planeta Titã, com seus vastos recursos. Sua missão: conquistar este planeta distante, vencendo a luta contra as outras potências.
Como membro do programa espacial Outlive, lançado pelo Congresso Mundial, você se depara com duas dificuldades: as condições climáticas de Titã, que impossibilitam a participação de pessoas na missão Outlive, e o fato de você não ser o único interessado na fontes de matérias-primas imensamente lucrativas.
Primeiro, você precisa desenvolver duas novas raças que sejam viáveis na atmosfera de Titã: humanos e robôs geneticamente otimizados. Treine-os para se tornarem unidades de combate eficazes e explore o planeta desconhecido, competindo com seus poderosos oponentes.
O Outlive é um RTS onde se controla exércitos futuristas em uma disputa pelo domínio dos recursos naturais do sistema solar. O cerne da jogabilidade é o arroz com feijão estabelecido por Dune II e Warcraft, você gerencia uma base, constrói tropas e estrutura um plano estratégico para derrotar oponentes, sejam eles controlados pela inteligência artificial (IA) ou por outros jogadores.
Há duas facções distintas: humanos e robôs, cada uma com sua abordagem única, exigindo estratégias adaptadas. As construções humanas dependem de uma rede de energia conectada, o que requer planejamento para abastecimento. Já os robôs possuem autonomia energética, distribuindo eletricidade diretamente pelo mapa, o que permite mobilidade e flexibilidade em termos de posicionamento e expansão. Ambas as facções necessitam de recursos, obtidos principalmente através da mineração de ferro e urânio, essenciais para construção, investimento em pesquisa (para progredir ao longo de uma árvore de tecnologia) e criação de unidades e seus equipamentos.
No que se refere ao combate, Outlive possui uma IA avançada para a época, permitindo enfrentar até sete exércitos controlados pelo computador. Esse recurso tornava game desafiador para partidas solo, embora meio demorado. Além disso, Outlive incorporou um sistema de espionagem, no qual se pode monitorar ou sabotar o inimigo, o que pode dar mais profundidade estratégica às batalhas.
O multiplayer de Outlive oferecia várias opções de conectividade, incluindo rede local, Internet, modem e cabo serial. Por meio do Continuum Game Server (CGS), os jogadores podiam se conectar pela Internet e disputar partidas com até 16 jogadores simultâneos. Essa plataforma de matchmaking integrada permitia que os fãs de Outlive encontrassem adversários online, o que tinha grande potencial de expandir ainda mais o escopo do jogo e fortalecer sua comunidade. As opções que não dependem de servidor, como LAN e cabo serial, devem funcionar até hoje em dia.
Além das campanhas, Outlive oferece um editor de mapas, que possibilitava a criação de cenários personalizados, ajustando detalhes como a disposição dos recursos, as bases e os pontos estratégicos, criando missões sob medida e aumentando a longevidade do jogo com conteúdo gerado pela comunidade.
Com um sistema de unidades ilimitadas, Outlive permite um controle mais dinâmico do exército, proporcionando uma gameplay expansiva e envolvente tanto para quem preferia partidas solo quanto para quem se aventurava no multiplayer.
O Outlive foi um dos primeiros, se não o primeiro jogo brasileiro que me lembro que ganhou atenção sem não se apoiar totalmente no fator zueira (tipo os jogos de Chaves do Cybergamba) e/ou em temas estritamente locais (como o Incidente em Varginha, que inclusive tem um remake). Não que isso seja um demérito, muito pelo contrário, mas me deu a impressão que o desenvolvimento de games no Brasil finalmente podia focar em experiências polidas e robustas, com objetivos concretos e temas diversos com ressonância também internacional.
Aliás, talvez o problema tenha sido de fato esta tentativa de bater de frente com um título icônico como StarCraft. Foi uma escolha corajosa, mas também significava enfrentar uma batalha desafiadora, especialmente considerando as limitações técnicas e de distribuição enfrentadas pela Continuum Entertainment na época.
O StarCraft ainda não havia virado o monstro imortal que acabou se tornando alguns anos mais tarde, alcançando um patamar diferenciado, quase transcendendo o próprio universo dos games. Ainda assim, penso que se a equipe de desenvolvimento tivesse seguido a mesma estética, mas adotado uma abordagem mais alternativa na gameplay e num marketing focado em outros elementos, Outlive poderia ter tido um sucesso maior na época e atraído mais público. Não estou dizendo aqui que este RTS era um mero clone do produto da Blizzard, pois possuía diferentes mecânicas e elementos de gameplay, mas podia ter se especializado num caminho que o StarCraft não oferecia.
Isso não quer dizer que o Outlive foi um fracasso. Digo isso com muita tranquilidade, pois sei que tem um número substancial de buscas por este RTS até hoje, o que pra mim significa que tornou-se um clássico cult. Com isso, penso que seria bacana o pessoal da Continuum sentar e debater se vale a pena abrir o código do game e liberar num GitHub da vida pra comunidade modernizá-lo, aprimorar seus gráficos, corrigir eventuais bugs e modernizar a jogabilidade e controles. A prática de abrir o código de engines clássicas já demonstrou grande sucesso em reviver títulos antigos, e permitiria que Outlive continuasse sendo celebrado por ainda mais gerações. Eles podiam até fornecer o jogo baratinho em alguma plataforma online da vida pra galera comprar e poder usar seus assets com um port avançado do engine, tipo o que acontece com o Doom e tantos outros.
Enfim, não sei os pormenores do que aconteceu/acontece nos bastidores, mas acho que seria interessante parar pra pensar nisso com carinho.
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